sábado, 4 de fevereiro de 2012

poésias goticas






               ao infortúnio do amigo Aaron Zvestkovis, marinheiro.

Era uma tarde de mar calmo, de águas espelhadas, pálidas pela luz do fim
de tarde.
O vento não soprava, e não havia no céu nenhuma nuvem.
O velho navio singrava suave como se deslizasse pelas águas vitrificadas,
seguido de um roncar surdo do velho motor no inferior de sua popa.
Rumava em direção ao por do sol e desenhava em sua retaguarda,
um rastro de pequena turbulência provocada por suas hélices.
Era um navio realmente velho. Seu casco todo enferrujado, trazia marcas
de sua trajetória em cada porto por onde passou; seu nome já não se
distinguia entre a ferrugem. 
Seu calado, já enfraquecido pelo tempo, a água salobra do mar e as
pesadas cargas que transportara desde muito tempo, rangia com os ferros
de sua estrutura resvalando uns nos outros pelas folgas entre as peças.
O som do ferro se perdia ao longe, ao longo do seu percuso.
Raramente se via os tripulantes na proa ou em toda a extensão do lado
externo, mas quando apareciam, era impossível não deixar de se
surpreender por seu aspecto.
Olhares sempre voltados para o infinito, sempre buscando algum ponto,
algum referencial.
E a expressão da face justificava o olhar. Era como se esperassem por algo;
como se esperassem por uma resposta que no fundo da alma sabiam
que jamais chegaria.
Expressão de angústia profunda, mesclada com um medo interior, um medo
intenso, todavia, sem saber do quê. Eram como corpos sem o vigor da vida,
sem ânimo e sem vontade; andar pesado e lento, como se contassem os
passos; nunca se falavam e nunca trocavam olhares.
Era como se um não notasse a presença do outro, ou não fazia diferença
o outro estar ali.
As roupas pregadas ao corpo encurvado, como se levasse o peso do
mundo nas costas, e não dormissem há tempos e tempos.
Era como a visão de um ataúde flutuante, e que levava seus ocupantes
para uma viagem eterna até seu descanso final no seu túmulo que
seria o próprio mar.
Ninguém guiava a embarcação; ela seguia sempre em rumo próprio,
levando seus ocupantes, os condenados por um crime imperdoável
até seu destino frente a frente com seu algoz.
No fim da tarde, quando os últimos raios pálidos de sol refletiam moribundos,
sobre a água, veio do leste grande nuvem negra e medonha seguida
de forte vento que agitava o mar com vagas enormes e violentas.
Os olhares dos tripulantes voltaram-se para estibordo com grande terror.
Viam ali chegando, seu carrasco impiedoso e insaciável, com grande fúria,
executar a ordem capital, a sentença injustificada de um juiz frio e cruel.
Expressões horrorizadas estamparam os rostos dos condenados com
uma angústia que vinha do mais profundo recôndito da alma, aflorar
nos nervos e em todas as articulações daqueles corpos trêmulos e já
sem nenhuma força.
O forte vento logo deu origem a um enorme ciclone, fazendo o barco
ficar bem ao seu centro. Grandes correntes de ventos varriam a embarcação,
ondas enormes lavavam o convés; a embarcação pendia de um lado a outro,
e em certos momentos, parecia que viraria. Os tripulantes já sem a mais
remota das esperanças, ainda seguravam-se na amurada, mas por puro
instinto, e não por esperar salvar suas almas da mão do impiedoso destino.
Meia hora depois do início, a tempestade chegou a seu apogeu. A escuridão
era total, e o que se via de longe, era uma pálida luz que vinha do interior
do barco.
Seus tripulantes se refugiaram até então em seu interior; o navio
mergulhava por completo sob as vagas, e tempo depois, voltava à tona,
como um ser que, se afogando, busca desesperadamente encher seus
pulmões de ar para conseguir sobreviver por mais uns instantes debaixo
da água. O vento se acercava mais e mais, tudo estava acabado!
Não havia mais o que esperar.
Em um desses mergulhos violentos, a grande e negra embarcação sucumbiu
ao furor da matéria, e deixou o mundo da superfície para traz, para nunca
mais voltar.
E o que se viu num último relance, foi o rosto de um dos tripulantes
colado em uma das janelinhas de vidro, olhando para fora, quando o navio
já deixava o mundo de cima, com a expressão de um rosto que faz
um vivente quando a alma parece querer sair de dentro do corpo através
dos olhos.
Uma expressão de dor, angústia e medo; a expressão de quem olhava
tudo aquilo acontecer, e impotente, contra seus algozes, apenas olhava
em um último instante para lhes perguntar
“por que?”.

Roger Silva
Macapá, 26 de Julho de 2009 - no calor do verão do norte.

Escrito por Roger Silva às 16h43
[ (10) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

25/07/2009




O FAROL DO FIM DO MUNDO

                                                  a ti, senhora, que reencontraste o lar

Em uma ilha muito distante, em pleno mar do fim do mundo,
como é conhecido o estreito de Drake, onde o mar é sempre
agitado por tormentas e o vento ríspido e gélido proveniente
das regiões glaciais da Antártida, existiu há muito tempo atrás
um farol numa pequena ilha próxima a terra do fogo.
Aquele farol era o único naquelas paragens desérticas distantes
do resto do mundo. Era a luz daquele farol que em noites
de mar escarpado, trazia aos marinheiros que por ali vagavam,
a esperança de uma chegada segura no estreito, até a saída
do canal onde seguiriam em sua viagem rumoas águas do pacífico.
No farol viveu por muito tempo um faroleiro juntamente com
sua família – sua mulher e um filho de pouco mais de cinco anos.
Anos após anos seguidos em uma rotina imutável, vendo passar
no horizonte distante, os navios
errantes e o mar impiedoso e atroz.
O farol nunca falhava. Tormenta após tormenta ele sempre estava lá,
emitindo sua luz âmbar em todas as direções daquele horizonte sempre
cinzento, encoberto por neblinas densas. Mais anos e anos
se passaram e um dia a mulher do faroleiro, na varanda do farol,
com os olhos voltados em um ponto qualquer do grande mar, enquanto
dormiam seu marido e filho, desceu até a pequena praia que ali havia,
e olhando compenetrada o gigante gelado, tomou-o pelo jardim de sua
casa que quando menina lá morava, e que agora sua mente a trazia de
volta, e no mar entrou, para o jardim voltou e de lá nunca mais saiu.
Seu esposo e filho nunca mais retornaram a vê-la.
Os anos continuaram vindo, lentos e infalíveis.
Até que em certo momento
alguma coisa pareceu ter acontecido.
O tempo era sempre lento, e a vida
no farol era como um quadro pintado, parecia não mudar com o tempo.
Era sempre a mesma imagem, o mesmo retrato. Mas um dia parece que
alguma coisa havia mudado. De repente o garoto cresceu sem se aperceber,
e agora já era adulto. Foi essa mudança que o fez notar o tempo retratado
no corpo do seu velho pai. Estavam lá as marcas de todos os anos de sua
vida no farol. Cada ruga, cada cabelo branco contava um cotidiano de uma
história que ao longo do tempo foi uma só. Dia após dia a mesma história
durante décadas, e agora parecia serem tão notórias essas evidências do
tempo marcada na pele do seu velho pai. Pensava isso certo dia quando
via o velho sentado na varanda do farol, como fazia todos os dias de sua
vida ali. Então o rapaz se apercebeu do seu destino. E sua mente, como
o reflexo da luz do velho farol, se iluminou dentro de sua própria alma, e
pela primeira vez veio um medo interior que o fez sentir-se um ser esquecido.
Vieram velhas lembranças à sua mente: sua mãe, uma rua, uma casa, algumas
outras crianças...
E viveu o rapaz dali em diante com uma tristeza que nunca mais lhe sairia dos
olhos.
Passaram alguns meses e chegou um certo dia em que as provisões acabaram,
e o pequeno barco que todos os meses ali encostava para lhes suprir, havia
uma semana não aparecia. Estavam à mercê do destino. O isolamento era total
e não havia outro transporte senão uma pequena e velha canoa que usavam
para pescar próximo às margens e que há muito não usavam. A sede era a pior
de todas as dores, superando a da fome. O desespero fez com que bebessem
água salina do mar, o que lhes aumentava a desidratação. O pânico se acercava
do pai e do filho, até que no amanhecer de um outro dia, apenas um o sentia
por inteiro com todos os seus terrores. O velho havia morrido.
Sem forças para descer o velho do farol, e enterrá-lo, o rapaz o sentou na
cadeira da varanda como sempre o velho fizera por todos aqueles anos,
e lá o deixou. Desceu vagarosamente a longa escada em espiral, arrastou
a pequena canoa até a margem do mar, subiu e a empurrou até mais fora
da praia e nela deitou-se com os olhos voltados para o céu. Um instante
depois com grande esforço sentou-se e buscou seu olhar pela última vez,
o farol. E lá avistara o velho farol e seu velho pai, sentado como se tivesse
o observando e de algum modo, querendo dizer-lhe algo em um lamentoso
adeus. Então deitou-se novamente. Não havia mais nenhum vestígio de forças
no seu corpo. Entregara-se de vez ao destino infeliz que a vida o premiara.
E assim as correntes o levaram ao mar aberto até sumir como um pontinho
escuro no horizonte.
Depois de muito tempo de existência, naquela noite o farol não acendeu.
Sua luz âmbar nunca mais voltou a iluminar a escuridão das noites daquela
parte do mundo.
E o tempo passou...Décadas e mais décadas, ninguém voltou a por os pés
naquela pequena ilha do estreito de Drake. As ondas do mar cavavam
ano após ano, a base do velho farol. O mar avançara lento, lento.
As pedras de seus alicerces já começavam a aparecer junto com suas ferragens
que a salinidade do mar destruía dia após dia, um após outro a cada vergalhão
da construção. E o tempo passou e passou e o mar avançou e avançou, até que
um dia o velho farol fraquejou sob seu peso e a fúria das intempéries glaciais
e por fim, caiu. E seus escombros até hoje estão lá, sob as ondas do mar gélido
de drake, na terra do fogo.
Um lugar chamado de fim do mundo,
porque ali é a terra que o mundo e o tempo esqueceram.

Roger Silva
Macapá, 25 de Julho de 2009 - crepúsculo de verão.

Escrito por Roger Silva às 18h52
[ (9) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

25/12/2008


Os Tabernáculos do Rei

Quão Amáveis são os teus tabernáculos, senhor dos exércitos!
a minh'alma suspira e desfalece pelos teus átrios.
tal qual o pardal que encontrou casa, e a andorinha ninho para si,
eu encontrei teus altares, senhor Rei e Deus meu.


Bem aventurados são queles que habitam tua casa
pois um só dia nos teus átrios vale mais que toda minha vida.
Tu és sol, és escudo, és fortaleza
tu és paz
és muito mais
Senhor, tu és vida!

Roger Silva
25/12/2008
Natal
texto baseado no salmo 84 da bíblia
créditos das fotos: trechos de cenas da ópera-rock "Jesus Cristo super star"
Escrito por Roger Silva às 19h10
[ (5) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

17/11/2008

Omaira

a montanha furiosa
em convulsões coléricas
vomitou a ira da terra
sobre a planície
fogo e gelo
água e terra
lama e lágrima
soluço e dor

oh, dor!

"porqué arrestame, tierra mia?"
"porqué, Dios mio?"
"no és justo."


não, não é justo, preciosa!
menina, divina.
a terra é pouco pra ti
teu espírito é elevado.
anjo,escuta!
eis o mistério do amor maior.


vem,vem Omaira!


o berço do amor maior te espera
e nele foi preparado um lugar que é teu.
anjos não devem habitar esta terra suja
e, qual ironia, divina menina!

qual ironia!

deixa sob essa terra o que fútil
toma a plenitude
sem limites da vida

"mami, papi, se me escuche..."


sim, divina menina, todos escutam e sorriem


estás vindo!
estás vindo!

e ninguém poderá evitar
é a impotência mundana

infinitas vezes louvada seja a resolução divina!
agora és eterna.
viva a eternidade dos sonhos divinos, Omaira.

"cada estrela do céu Deus a chama por seu nome"

e Deus chama sua estrelinha "Omaira"
que tem brilho próprio e que jamais apagará.
vive, eterna menina.
és a estrelinha de Armero, que brilha para o mundo.


Roger Silva

Macapá, 16 de Novembro de 2008.

para Omaira Sánchez, com profunda ternura.


Escrito por Roger Silva às 23h02
[ (8) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

23/08/2008



 


Poesia do silêncio

Nestas horas mortas que a noite cria, entre um e outro verso do pavoroso poema, que sob a pálida luz de uma vela eu lia, me chegavam antigas lembranças de um dilema.
Quanto amargo e dissabor o silêncio produz!  Entre as sombras vacilantes da noite, chegam em formas indefinidas, que sobre minha cabeça pairam, aves e outras criaturas aladas que de infernal recônditos alçam vôo até minha mente, a perturbar minh’alma.
Essas formas indefinidas das sombras criadas pelo medo, ocupando o vazio do meu ser, preenchendo o que antes era de sentimentos sublimes e, agora, somente o sentimento de dor. O que antes era alegria, agora é tão somente o dissabor.
Que pena paga um condenado pelos sentimentos! Oh, agonia incessante. Que martírios mais terei que suportar? Como um medo tão latente do desconhecido, pode tanto me apavorar? Será do vazio de minha alma que sinto medo? Ou do esquecimento do meu ser, por outro já amado?
Não é do fim da vida que treme minha alma, mas do fim do sentir-se bem eterno. Não mais existir não é tão doloroso quanto o existir sem ser notado, ou amar sem ser amado, ou perder o que jamais será recuperado.


Roger Silva
Belém,Pará
2005



Escrito por Roger Silva às 19h00
[ (14) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

17/08/2008

Quero ser a noite

Já não me basta este corpo de carne
E já me doem lembranças desta vida
Eu quero ser a noite, em todo seu esplendor
Quero ser o céu escuro que te cobre nas noites sem lua
Já não me basta esta beleza limitada
Essas paixões de memórias
Este corpo de vida curta
Não quero ser lembrada
Não quero ser esquecida
Não quero estar aqui
Eu quero ser
Apenas ser
E sempre ser
Eu quero que me sintas, me toques, me vejas
E eu não estarei lá
Não quero estar ao teu lado para que apenas assim penses
em mim
Eu
quero ser a noite, em todo seu esplendor
A noite de beleza eterna
Quero ser a brisa que te toca todas as manhãs
Que te traz noticias de além mar
Eu quero ser o manto negro que te cobre ao final de todas as tardes
Eu quero ser a noite
Quero ser para sempre


poesia de autoria de Ana Luiza da Silva Garcia
tal como foi escrita.
Escrito por Roger Silva às 17h52
[ (23) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

18/05/2008


Amargo prazer

Toco-te com os lábios desejosos;
olhos fechados e espírito leve.
Degusto-te com suave requinte
de prazer imensurável.
Aprecio-te como a linfa soberba
que leva de mim todos os pesares.
Trago-te como sopro divino
do alívio tardio, mas triunfante.
Deixo-te como vestígio agonizante,
Tentador sedutor
Do qual se bebe o amor.
Roger Silva
Macapá,18 de maio de 2008. 00:57
Escrito por Roger Silva às 00h57
[ (5) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

20/04/2008

Pedaços de mim no chão

No espaço onde eu habitava não me encontro mais.
no mesmo lugar está um velho par de sapatos;
roupas num canto, outras na parede penduradas.
na solidão conversam entre si em diálogos silenciosos;
perguntam por mim.
Mas não estou.
há tempos não me vêm, há tempos não saem;
há tempos não me vestem; há tempos não me calçam os pés.
E não sabem onde estou.
É que sou feito do mesmo tecido que são feito os sonhos,
e como não mais tenho sonhos, tampouco tenho vida;
tampouco existo.
mas o que ainda há, são vestígios de mim.
Entre a poeira e o mofo,
o silêncio e a solidão,
pedaços de mim no chão.

Roger Silva

Macapá-Ap, 20 de Abril de 2008 17:47
Escrito por Roger Silva às 17h54
[ (16) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

28/12/2007

 Advogado do diabo
Ali, logo – disseram-me ao ouvido.
Apontou-me não sei o quê de luminoso opaco: lá está!
Ah!
O inferno veio pousar à minha frente. Inteiro, completo. E os meus olhos descansaram na imagem de seu dono, seu senhor. Terrível pesadelo!
Senhor de tais recônditos – disse eu – já não mais andas sozinho. Antes trazes agora contigo o teu reino?
E sentado no canto escuro do meu quarto, onde somente sua silhueta era divisada na penumbra da luz lunar, ficou.

- Não há sobre esta superfície corrompida, uma só coisa da qual poderás me surpreender. Antes, eu me repugno com o lado externo das coisas do que o avesso.  Demoraste. É tarde para ti.
Falou-me:
- É tudo uma questão de escolha. Tudo!
Pode-se ficar de qualquer lado e terás sempre uma razão.
Ah, A ambigüidade! Coisa divina ou proeminentemente humana?
Sim, advogados. Façam uma estátua e cultuem a ambigüidade. Que seria de vós sem ela?
Essa coisinha pariu uma filhinha...humm...E ela é tão adorada! A humanidade a adotou, é sua afilhada querida.
Que nome a deram?
Hipocrisia chama-se ela. Filha amada!
Mas ouça: antes dela nasceram duas irmãzinhas gêmeas, univitelinas. Mas, ah! Que fatalidade: São tão distintas. Como pôde? Ora, que importa? Todos gostam delas também. Mas uma, querem para si, a outra dão para os outros, mas sempre as querem por perto.
Mas como se chamam?
Verdade e Mentira, são como as chamam
- Ora, ora, mas veja se não é o que dizem, senhor deles. Tu és o pai de uma delas, a quem chamam  Mentira. Sua filha amada.

- Há um dito entre os humanos e que é universal. Ora, dizem que pai é quem cria. Se tu a crias, é filha tua, embora tenha nascido de mim.

- Calo-me quanto a isso. Se podes pensar assim. Maldita! Maldita ambigüidade.
Mas, senhor deles, piso-te o cenho feio. Vai, e contigo tua casa. Sobre esse assoalho há terra fria, mas mais ao fundo encontrarás solo quente. Esta superfície que me arrasta, e comigo tudo abaixo do manto gasoso, é minha casa. Não! É por onde vaga meu corpo, que é casa do meu espírito. Sobre esse corpo necessito um telhado para proteger-me corpo e espírito. Mas sobre tu está tudo e todos.  Para que necessitas dessa proteção?

- Até as palavras necessitam de abrigo, pois se as tivéssem apenas no ar não lembrarias nem mesmo o teu nome.


Rogério Silva
Macapá, uma noite qualquer de setembro de 2005.

Escrito por Roger Silva às 01h11
[ (4) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

24/12/2007

Yeshua Adonai
Quem és tu?
que adentra meu osbcuro mundo e me tocas o espaço do meu coração?;
que de ti fogem a escuridão e as sombras, e lampejos de luz o seguem?
Quem és tu?
que preenche-me o vazio da alma;
aquece e levanta meu corpo frio?
De onde vens?
que arrasta consigo as estrelas pela escura cortina do universo
e povoa todo o infinito des astros cintilantes?
O que tens?
que me faz os olhos fechados te ver
e abala as pedras do meu sepulcro?
Onde vais?
que com sorriso, me toca a mão e me apresenta este átrio da vida?
Quem são esses?
que a ti, cantam "Yeshua Mikisdaskin!" "Yeshua Tsidekenu!" "Yeshua Adonai!"

Roger Silva
24-12-2007  - 23:40

Escrito por Roger Silva às 22h40
[ (6) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

10/11/2007


Poesia de um soldado Celta

Anseio pelos ventos árticos para, no calor da luta,
Refrigerar minh’alma;
O murmúrio do Nore a balançar meu sono
E a voz de Ériu a acalentar meus sonhos.
Na escuridão da ravina, os fantasmas dos irmãos mártires
Na lâmina de minha espada, pedir-me a vingança
E sobre a lápide dos meus inimigos cantar:
"Sê Tu minha visão, ó Senhor do meu coração;
 nada me salva, a não ser Tu; de dia e de noite,
Tu és o meu melhor pensamento;
ao levantar e ao deitar, Tua presença é minha luz."

Roger Silva
Macapá, 10 de Novembro de 2007 - 19:17hs
Escrito por Roger Silva às 18h25
[ (5) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

02/11/2007


A CURA   

Em uma tarde de sol eu acordava da vida que sonhava
E a realidade final à porta do meu quarto me esperava
Quarto escuro...
Lá fora, a luz.
Eu, imobilizado pela dor.
O amargo veneno me seduz;
Um pouco só dele, e se vai meu rancor.
Ainda quero a luz.
Ardam os meus olhos na intensidade de criar lágrimas insanas
Que me escorram aos lábios secos como soro
E me curem os pensamentos de infâmias.

Roger Silva

Sem data da escrita
Escrito por Roger Silva às 20h30
[ (4) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]
 

NOITE

Morcegos e corujas alçam seus vôos, os pombos se refugiam.
A brisa de corpo quente, informe e envolvente roça os caules, as copas das mangueiras.
Meu corpo andarilho levanta o pó da rua.
A luz opalada da lua banha as nuvens esparramadas sobre o manto gasoso, difusando
Seus raios e projetando minha sombra errante sobre o asfalta duro.
Silêncio.
Meus próprios passos me seguem à retaguarda, retardos. Ao longe se ouve o som
Dos escapes automotivos. Cães ladram e se recolhem. Espíritos rodopiam, sussurram e gritam reunidos nos cabos elétricos do cruzamento da eqüina. Almas atropeladas. Me espiam, me seguem, me empurram. Tropeço. São fantasmas; são meus; são camaradas. Alguém parece falar próximo.Não dá para ouvir. De onde vem? Ah! vem de cima; do alto.
São os astros. Estrelas ululantes, planetas mudos, galáxias portentosas, constelações festivas. Ruídos surdos do infinito que vibram os átomos atmosféricos vindos do vácuo frio até os meus cabelos.
Minhas roupas, cúmplices do meu corpo, me abraçam, me protegem, juram fidelidade e subserviência até a cama. Na minha chegada, o quarto escuro, denso, ar ocioso. A  luz vem e o denso ocioso foge com a sombra foge da luz. A cama vazia, fria, desperta e me pergunta: onde esteve? Por que demoraste?
Então me aproximo; sento-me ao seu lado e logo deito sobre ela, e ela me abraça, me protege.Nos envolvemos sob o lençol e colamos o rosto – doce amante e confidente. Dormimos. O sol não tarda a dissipar toda essa bela fantasia.

Roger Silva
Macapá,12 de Outubro de 2005 - 03:30hs

Escrito por Roger Silva às 15h04
[ (3) Vários Comentários ] [ envie esta mensagem ]

12/05/2007





A TRISTEZA

No segundo sábado do primeiro mês de inverno, meu amigo Yuri Wlastov veio me visitar.
à mesa, ao bailar da luz do candelabro, em uma pausa, lhe questionei:

- Meu caro camarada Wlastov. O que é para você a tristeza?

ao que me respondeu:

- A tristeza, camarada, é a ferida na alma que canta.
é a solidão da tundra de nossa gélida sibéria.
é o adeus do sol no último dia de verão.
é o um navio a se perder na curva do horizonte do mar.
é a queda da casa de Usher.
é o cair do cadafalso.
é o apagar-se do nome no epitáfio.

sábado, 12 de maio de 2007


--------------------------------------------------


PORQUE...(*)
Num inverno de um ano difícil eu nasci
Meu pai não poderia ter tido pior sorte
Do que o peso da minha vida
E da minha mãe, sua morte

Logo fui do meu pai separado
Em lares estranhos fui criado
E pelo que comia fui explorado
E nunca, por nada fui consolado

um sorriso nunca me encontrou
um beijo nunca me tocou
um abraço nunca me cercou
somente a dor nunca me deixou

não sou à vida em nada grato
sou um intruso da existêcia
um errante sem mapas
o soluço da dor da demência

* Manuscrito encontrado no bolso de um suicida.


19-março-2007 12:20

--------------------------------------------------




era uma rosa vermelha
ou uma rosa branca tingida de sangue
eram lábios de tentador rubor
ou eram lábios famintos de vida
eram olhos de escuro intenso
ou eram olhos vazios de luz

***

ainda cai a chuva durante o dia
e o sol se esconde dos olhos terrenos
acalmam-se os ventos.


sem data.

Nenhum comentário:

Postar um comentário